Millennium Ecosystem Assessment (MA) refere os factores antropogénicos como dominantes na mudança dos padrões globais da biodiversidade em oposição aos factores naturais. Nestes factores de influência indirecta incluem-se índices demográficos, económicos, sócio-políticos, culturais, religiosos, científicos e tecnológicos.
O consumo crescente dos serviços dos ecossistemas leva a um crescimento populacional e por sua vez a um crescimento do consumo per capita. O factor cultural condiciona a visão do mundo o que influência as preferências de consumo e conservação levando a acções mais e menos apropriadas. Isto provoca uma elevada pressão nos ecossistemas e na biodiversidade.
As espécies que estão em maior declínio, consequência dessas acções, tendem a ser repostas e substituídas por um número significativamente menor de espécies em expansão, o que resulta em ambientes humanamente alterados. Ou seja, assiste-se a uma maior homogeneização da biosfera caracterizada por uma menor diversidade de espécies à escala global.
Exemplo disso é o decréscimo global da diversidade genética ao nível das espécies vegetais e animais domesticados nos sistemas agrícolas, provocado pela intensificação desses sistemas, pela especialização dos viveiristas e pelos impactos harmonizadores da globalização, como é o caso dos milhos transgénicos.
As alterações climáticas são também consequência da acção do Homem, contudo, o seu efeito no ambiente é directo para a perda da biodiversidade. Isto é, se a acidificação das águas e dos solos resulta da elevada concentração de poluentes do ar, por via da industria, tráfego automóvel e outras emissões urbanas, provocando a ocorrência de chuvas ácidas (por via do ciclo hidrológico) reflectindo-se em alterações significativas das condições ambientais dos ecossistemas (p. ex. alteração de pH) e inevitável perda de diversidade biológica.
No respeitante ao fenómeno do aquecimento global, o que se tem verificado, regionalmente, enquanto impactos significativos são:
. mudanças na distribuição das espécies,
. alterações no tamanho das populações,
. alterações no tempo de reprodução e migração das espécies,
. aumento da frequência de registo de doenças e pestes.
. alterações no tamanho das populações,
. alterações no tempo de reprodução e migração das espécies,
. aumento da frequência de registo de doenças e pestes.
Neste sentido, o Painel Governamental para as Alterações Climáticas aponta como prováveis cenários
. aumento da temperatura média global na superfície terrestre entre 2 a 6,4ºC até 2100;
. aumento da incidência de cheias e secas;
. aumento do nível do mar, de 8 a 88cm, entre 1990 e 2100.
Qualquer um destes cenários projecta, globalmente, mais impactos negativos sobre os ecossistemas e respectivos serviços, que os benefícios que algumas regiões geográficas poderão colher. Isto significa, que se verificarão efeitos adversos nos serviços-chave dos ecossistemas tais como:
. o fornecimento de água potável,
. o fornecimento de alimento e energia,
. a manutenção do ambiente saudável,
. a conservação dos sistemas ecológicos e sua biodiversidade
. conservação de bens e serviços ecológicos associados.
Ainda, resultante das Alterações Climáticas parece ser inevitável:
. aumento do risco de extinção das espécies,
. decréscimo da quantidade e qualidade de água nas zonas áridas e semi-áridas,
. aumento do risco de cheias e secas,
. decréscimo, em certas regiões, do período de produção de biomassa e da força hidráulica,
. aumento de epidemias de malária, dengue e cólera em muitas regiões do globo,
. mortalidade devido ao calor,
. ameaças de decréscimo nutritivo de outras regiões a par de problemas traumáticos graves e morte,
. decréscimo da produção agrícola nas regiões tropicais e sub-tropicais,
. impactos adversos na pesca.
Segundo os estudos efectuados concluiu-se que os impactes dos factores directos de mudança na biodiversidade são constantes ou crescentes. Como factores directos ainda, se integram: a alteração do uso do solo, a alteração do curso dos rios, a extinção dos recifes de coral, os estragos nas plataformas marinhas devido à pesca de arrasto, a introdução de espécies invasoras, a sobre-exploração das espécies e a poluição.
São inúmeros os exemplos que ilustram a influência destes factores na biodiversidade e na alteração de habitats.
Em Portugal, a floresta viu o seu potencial biológico reduzido pela substituição do carvalhal (Quercus sp) por eucalipto (Eucaliptus globulus) o que se traduz na inibição do crescimento do sub-bosque e na consequente perda de alimento e abrigo para muitas espécies. Ao nível do solo dá-se, ainda, um empobrecimento e até delapidação deste recurso, uma vez que deixa de haver manta morta (m.o) e esgotam-se as reservas subterrâneas de água. A transformação da qualidade visual da paisagem é muito significativa.
Outras espécies exóticas, como a Austrália (Acacia melanoxylon) e a Acácia mimosa (Acacia dealbata) dominam sobre as nossas espécies autóctones limitando o seu desenvolvimento. A sua erradicação é uma luta incessante.
Ao nível da pesca e dos recursos marinhos muitas espécies encontra-se em risco de extinção pela sobre-pesca e/ou pela pesca acima dos níveis máximos sustentáveis. Aliás, todos os oceanos vêem quase esgotados os seus stocks de pescado, que o diga o nosso bacalhau (Gardus morhua)!
OUTRAS NOTÍCIAS
A IUCN, no seu relatório de 2004, referiu que, apenas, 15.589 espécies estavam ameaçadas de extinção, após a avaliação de 40.177 espécies (entre as 1,9 milhão que foram identificadas no mundo).
Na "lista vermelha" de 2006 estão 16.119 espécies de animais ou de plantas ameaçadas de extinção, o que, segundo os analistas da IUCN, "inclui um em cada três anfíbios e 25% das árvores de coníferas do mundo, além de uma em cada oito aves e um em cada quatro mamíferos".
Achim Steiner, director-geral da organização, declarou que “A Lista Vermelha de 2006 mostra uma clara tendência: a perda de biodiversidade aumenta, não diminui", alertando que essa situação tem "um grande impacto" na produtividade e na capacidade de recuperação dos ecossistemas.
Em relação ao Mediterrâneo, o relatório aponta a região como um dos 34 focos críticos de biodiversidade do planeta, com cerca de 25 mil espécies de plantas, das quais 60% não são encontradas em qualquer outro lugar do mundo.
A principal ameaça à vida silvestre dos desertos é a caça ilegal, seguida da degradação do habitat.
A organização acrescentou que a situação das espécies de água doce não é muito melhor e que 56% dos 252 peixes de água doce endémicos do Mediterrâneo estão ameaçados de extinção.
A IUCN lembrou que, além de ser uma importante fonte de alimentação, os ecossistemas de água doce são essenciais para obter água potável e para o saneamento.
CURIOSIDADES
O bacalhau é um peixe de águas frias do Atlântico Norte e do Círculo Polar Ártico - Noruega, Terra Nova, Islândia, Canadá e Alaska. Cada fêmea põe, por ano entre 4 a 6 milhões de ovos Contudo, só cerca de 1% sobrevive e chega à fase adulta. Aos dois anos o bacalhau já tem 50 cm. Vive perto de 20 anos, altura em que atinge 1,5m e chega a pesar 50 Kg.
Em 2000 o bacalhau foi incluído na lista de espécies ameaçadas pelo WWF (World Wide Fund for Nature), que publicou um relatório informando que o bacalhau havia diminuído em 70% nos últimos 30 anos e, se essa tendência continuasse, os stocks mundiais de bacalhau desapareceriam em 15 anos.
4 comentários:
por vezes esquecemos que em Portugal também se registam ameaças e perdas de biodiversidade, que acabarão por ter efeitos no nosso modo de vida, caso da destruição da floresta primitiva por introdução de espécies exóticas invasoras e da diminuição do stock de bacalhau de quem somos tão amigos que o aniquilamos.
Por acaso algo que esse texto refere e que ainda não tinha pensado nisso é a redução da biodiversidade nas espécies domesticadas e agrícolas resultante de uma homogenização de uma sociedade global. Será que não saímos a perder ao moldar o mundo ao nosso gosto?
olá, logo hoje que é véspera de São Martinho tinha de saber que o bacalhau está em extinção. Hoje é dia de provar o vinho e de comer bacalhau nas brasas.
E agora deixaremos de o consumir? ou esperamos que os outros o façam?
Em relação a redução da biodiversidade em espécies domésticas não me surpreendeu, porque quando temos os animais ao nosso cuidado, temos por várias razões, mas todas elas têm que ver com satisfação. Seja porque o animal é mais rentável, mais elegante, mais meigo , etc.
Quando preferimos um animal de determinada raça, estaremos a cometer um crime? Quando criamos e engordamos os porcos para o natal, estaremos a cometer outro crime?
É fácil de criticar e apontar o dedo, mas se a poluição promovida pelo homem tem vindo a crescer é porque todos nós o permitimos. Quem é que hoje lava fraldas de bébés ou de adultos acamados? As fraldas não são produtos naturais e os seus resíduos são um problema, mas quem abdica? Eu ou os outros?
Fica bem
Elisabete Chaves
"É fácil de criticar e apontar o dedo, mas se a poluição promovida pelo homem tem vindo a crescer é porque todos nós o permitimos"
Aí é que dói um bocadinho... somos todos co-responsáveis!
Já agora, come-se bacalhau por aí nesta altura? Eu por aqui só me junto a comer castanhas e a beber gerupiga!
A propósito BOM S. MARTINHO PARA TODOS.
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